segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Estranha

Ai gente!!! Achei esse texto tão super-mega-fofo que eu decidi compartilhar aqui no blog. Para aqueles que não gostarem, que vão tomar nos seus respectivos cuzinhos... 

Já era tarde da noite quando a moça falou a frase: “Eu não gosto dos livros da Clarice Lispector”. A partir de então fez-se um silêncio ensurdecedor. Todos ali na mesa do bar a olharam como se ela fosse um ser oriundo de algum ponto distante da galáxia. Até mesmo o garçom, perturbado demais com aquela grave afirmação, derrubou uma garrafa de cerveja no chão. Dizem alguns que inclusive um cão sarnento, que por ali perambulava, saiu em disparada.

Um dos seus amigos que estava ali reunido argumentou:
- Mas a Clarice possui um estilo introspectivo que lembra a Virgínia Wolf.
- Mais um motivo para eu não gostar dessa chata. – Ela respondeu. As pessoas ali na mesa ficaram estarrecidas. Cada palavra proferida por ela parecia ser o ruído de um gato raspando as unhas na superfície de um quadro negro.
- Mas o primeiro romance escrito pela Lispector: “Perto do Coração Selvagem” é profundamente existencial. – Falou alguém que até havia desistido de tomar cerveja.
- Mas nem por isso deixa de ser um pé no saco. – Ela respondeu.

A prima dela, que estava na roda de amigos, não suportou aqueles ataques a Clarice Lispector e foi ao banheiro vomitar.

Outro amigo dessa moça que odiava os livros da Clarice tentou salvar a noite:
- Pelo menos leia mais uma vez “A Paixão segundo G.H.”, esse livro se aproxima até mesmo do existencialismo de Jean Paul Sartre.

E eis que ela respondeu:
- Nem mesmo um balde de café conseguiu me deixar desperta diante das páginas desse livro.
- E a Hora da Estrela? – Questionou alguém ao seu lado.
- Uma porcaria. – Ela respondeu.
- E a Legião Estrangeira?
- Desisti antes mesmo de chegar na página quinze.

E assim todos os amigos se dispersaram e foram para as suas respectivas casas. Ela, por sua vez, teve que ir a pé, já que o amigo que ia lhe oferecer carona jurou nunca mais encará-la nos olhos novamente.
E enquanto caminhava sob um lindo céu de estrelas tristes, a moça pensou:
- E se eu dissesse também que odeio o Chico Buarque, será que eu sairia dali viva?  

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