sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Vencedor

Foi no final da transmissão televisiva de um importante evento cinematográfico que eu tive vontade de cagar. É verdade, no ápice da cerimônia, na hora em que seria efetuada a entrega do prêmio de melhor filme, eu senti os efeitos de um Toddynho de morango. Eu bem que li no rótulo que a referida iguaria estava com prazo de validade vencido no dia 19 de abril de 2006, mas irresponsável que sou, não dei a devida importância ao aviso.

Como eu não queria perder um segundo se quer daquela grandiosa festa cinematográfica, lutei com todas as minhas forças para a merda não sair da minha respectiva cavidade anal. Eu sabia que seria uma batalha difícil, pois conforme dizem os eruditos, “merda é que nem político corrupto, impossível mantê-la presa”. 

Finalmente o casal de apresentadores anunciou que o prêmio de melhor filme seria anunciado. Ela estava vestida com um modelito ultra-fashion-fofucho. Um arraso!! Ele estava vestido com trajes impecáveis, um verdadeiro colírio para os olhos!! E eu estava de pijamas, sentada no sofá, suando, gemendo e fazendo força para segurar uma exército de fezes prestes a sair do meu cu.

Eu desejava profundamente que aqueles dois pusilânimes no palco anunciassem de uma vez por todas qual era o grande vencedor da noite. Afinal, eu merecia, pois passei duas horas da minha vida sentada diante daquela TV escutando piadinhas infames e assistindo números musicais tão cafonas que deixariam o teatrinho infantil do meu sobrinho parecendo Hamlet.

Quando finalmente, a moça garbosa iria anunciar o vencedor, o maldito apresentador ao lado dela se intrometeu e proferiu um longo discurso sobre um grave problema que, segundo ele, aflige a humanidade: o cálculo renal.
Aquele filho da puta dizia:
- Devemos nos conscientizar que o cálculo renal também pode causar o bloqueio da passagem da urina, levando assim à dilatação a montante do sistema urinário, causando sofrimento e ranger de dentes.

Rangendo os dentes estava eu, um pouco porque sentia meu cu quase explodir, outro pouco porque estava a nutrir um ódio mortal por aquele apresentador.
E o bastardo prosseguiu com o seu enfadonho discurso:
- Amigos e amigas, devemos nos sensibilizar com os indivíduos que sofrem com o cálculo renal. Devemos ter consciência que o cálculo renal alojado no uréter ocasiona obstrução na via urinária, comprometendo assim o funcionamento do rim e provocando perda ou destruição do tecido renal. Por isso, meus amigos, a melhor forma de tratamento contra o cálculo renal é combater o preconceito.

A plateia aplaude emocionada, eu choro de raiva.
Quando finalmente a moça elegante iria anunciar o vencedor. O imbecil novamente se intrometeu:
- Antes de anunciar o vencedor, quero fazer uma declaração sobre a lesão por esforço repetitivo. Esse é um alerta importante a todos os homens que se masturbam compulsivamente. O ato de bater punheta eu sei que é bom, mas de forma exagerada pode ocasionar a famosa lesão por esforço repetitivo. 

Eu, ávida para despejar meio quilo de merda, estava desesperada diante daquela enrolação.
O apresentador continuou:
- A lesão por esforço repetitivo é uma doença que se desenvolve lentamente. O sintoma mais comum é uma dor semelhante ao reumatismo. Mas ainda assim, a melhor forma para curarmos a lesão por esforço repetitivo é combatermos o preconceito. Atualmente...

Foi aí que a apresentadora ao lado dele se intrometeu:
- Ah! Cala a boca! Deixa de enrolação e vamos acabar de uma vez com essa porcaria.

Incrível. Se pudesse eu beijaria a boca daquela moça ali mesmo, depois de ir ao banheiro, obviamente.

A moça então concluiu:
- E o filme vencedor é: “O ataque dos alienígenas gosmentos”, que narra a emocionante história de uma mulher que luta contra uma tendinite causada por excessivas viradas de cambalhota. 
O povo aplaudiu, o diretor e a atriz subiram ao palco e proferiram um discurso emocionado falando sobre esse mal que atualmente assola a humanidade: a tendinite causada pelo excesso de cambalhotas.

Eu, cinéfila que sou,  já considerava esse filme o grande vencedor da noite. Um excelente longa-metragem de belíssima fotografia e que arrancou elogios até mesmo daquele ranheta do José Wilker.
A cerimônia finalmente chegou ao fim. Eu, infelizmente, nem precisei ir ao banheiro, pois o que precisava ser feito em uma privada acabei por fazer ali mesmo, no sofá.

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